Ana Elisa Pires carrega na fala calma e na escuta atenta a força de quem aprendeu cedo que nenhuma trajetória é linear — e que, muitas vezes, é preciso coragem para recomeçar. Atualmente na Frigelar, liderando projetos de educação corporativa, Ana acumula vivências que vão de universidade corporativa a agência de encantamento, passando por rádio, indústria e hotelaria. O que conecta tudo? Curiosidade, consistência e um senso de responsabilidade raro.
Para ela, três palavras resumem sua trajetória: curiosidade, organização e dedicação. Desde os primeiros estágios, ainda adolescente, até assumir cadeiras estratégicas em empresas robustas, foi sua inquietação intelectual que a moveu. Nunca se contentou em fazer “só a sua parte”. Queria entender o todo, contribuir, conectar. “Eu sou muito de perguntar, de escutar. Quero saber como meu trabalho impacta o do outro — e como posso fazer melhor.”
Aos 16, ingressou na Intercity, e logo depois passou pela RBS, onde descobriu que sua vocação não era marketing comercial, mas gente. Seu olhar estava voltado para o cliente interno — para as histórias, as dores, os rituais que acontecem longe dos holofotes. E foi exatamente esse olhar que levou Ana a empreender por seis anos. Com uma agência de encantamento, entregava muito mais do que brindes ou eventos: entregava sentimento, conexão e memória.
Mas o grande divisor de águas veio quando ela decidiu voltar para o mercado formal. Mesmo com uma carreira empreendedora consolidada, optou por recomeçar — como assistente. Foi para o Grupo Sinosserra, depois voltou para a Intercity, onde implantou a universidade corporativa do zero, treinando líderes, estruturando programas e, sobretudo, fazendo com que as pessoas se sentissem parte de algo maior. “Em nove meses, a gente fez uma gestação. Criamos uma universidade inteira.”
Com esse repertório nas mãos, Ana chegou à Frigelar com um novo desafio: atuar em uma empresa familiar, de produto, com uma pulverização geográfica enorme e uma cultura diferente de tudo o que já tinha vivido. No começo, sentiu o impacto. Não conhecia ninguém, não dominava a linguagem técnica, sentiu o baque da transição. Mas, como sempre, preferiu ouvir antes de agir. “Estou construindo meu espaço com calma. Escutando mais do que falando. Só dá para ser embaixadora da cultura se você estiver aculturada.”
Hoje, coordena ações para um público interno de mais de três mil colaboradores, com foco em educação corporativa, desenvolvimento de lideranças e cultura organizacional. Divide seu tempo entre treinamentos, estruturação de projetos e diálogos estratégicos com diversas áreas. E mesmo atuando num escopo técnico, Ana mantém o mesmo olhar humano de sempre. “Desenvolver não é só para a empresa. É para a pessoa. É ela quem leva o aprendizado para a vida.”
Seu dia a dia inclui desde condução de workshops até mentoria informal de colegas, passando por estudo constante. Está fazendo pós em Psicologia Organizacional e, mesmo com uma bagagem imensa, segue aprendendo — sobre legislação trabalhista, sobre novas gerações, sobre IA. “Quem vai ser substituído pela IA não é o ser humano. É o ser humano que não soube usá-la.”
Ana tem clareza de que seu papel vai além da função. Ajuda colegas a se desenvolverem, compartilha aprendizados e dá espaço para quem está começando. Quando fala de liderança, não fala em autoridade. Fala em exemplo, em escuta, em responsabilidade com o outro. E defende que saúde mental não é tema “do RH” — é um compromisso de todos. “Ou você passa por isso, ou convive com alguém que passa. Não é sobre a porta da empresa para fora. É sobre ser humano.”
Em pouco tempo de casa, já conduziu ações com líderes do Brasil inteiro e recebeu a confiança para coordenar eventos estratégicos. Reconhecimento rápido, mas nada gratuito. “Eu não deito para o trabalho”, diz com firmeza. E não mesmo. Se há algo que define Ana, é a disposição para colocar a mão na massa — mas com cabeça no estratégico.
Hoje, com 30 anos, ela vive um novo plantio. Saiu da zona de conforto, abraçou a mudança e, com humildade e firmeza, está desenhando sua próxima colheita. Para ela, insistência e persistência são coisas diferentes. “Insistência é bater sempre na mesma tecla. Persistência é buscar novos caminhos para fazer dar certo.” E foi assim, persistindo com sabedoria, que Ana chegou até aqui — e promete seguir transformando ambientes, pessoas e trajetórias com a potência silenciosa de quem faz com verdade.