Nossa história não começa em um cargo — começa em um desafio. Começa em uma rádio em Cabo Frio, com uma jovem aprendiz escolhida por um conselheiro tutelar, e segue até hoje na atuação em comunicação e eventos. No meio disso, o que nunca faltou foi coragem.
Diagnosticada com deficiência auditiva, Ana aprendeu cedo que o mundo nem sempre estaria preparado para acolher. Mas também entendeu que não precisava pedir licença para existir com plenitude. “A sociedade acha que a pessoa com deficiência tem que ser pobre, triste, frágil. Eu nunca aceitei isso”, contou durante a entrevista.
Ao longo de sua carreira, passou por experiências no teatro, na televisão e em grandes empresas. Mesmo enfrentando inúmeras barreiras de acessibilidade e preconceito — inclusive no universo artístico —, nunca deixou que isso a impedisse de tentar. “Já deixei de falar sobre minha deficiência com medo de não ser chamada para atuar. Hoje, eu falo com orgulho. E se precisar de sinal para entrar em cena, a gente cria.”
Na rotina atual, Ana dá suporte administrativo e logístico à área de eventos e comunicação da empresa em que trabalha. Organiza ações internas, acompanha a produção de eventos e atua em todas as frentes necessárias para que as entregas aconteçam com profissionalismo e leveza.
Mas, mais do que sua função técnica, o que mais inspira é sua visão de mundo. Para ela, a autoconfiança é a base para qualquer trajetória de sucesso — ainda mais para pessoas que fogem do “padrão” estabelecido. “Se você não aceita sua limitação, não pode exigir que o outro aceite. A gente precisa se reconhecer e, a partir disso, mostrar do que é capaz.”
Ana fala com clareza sobre a necessidade de atualização constante. Está sempre buscando cursos, aprendizados e novas competências — especialmente em temas como inteligência artificial, inclusão e comunicação acessível. “Eu me sinto desconfortável o tempo todo. E é esse desconforto que me impulsiona.”
“O mercado não vai te dar colher de chá. Mas se você tiver um diferencial no currículo e souber onde quer chegar, a chance de brilhar é muito maior.”
Segundo ela, um dos maiores erros que as pessoas com deficiência ainda cometem é aceitar o lugar de coadjuvante. Para Ana, é preciso sair do papel de vítima e assumir o protagonismo. Estudar, se preparar, estar por dentro do mercado e buscar ocupar os espaços — com competência, não com pena. “Você tem que ser ambicioso. Ter metas. Saber o que quer alcançar. Só assim você se movimenta.”
Na entrevista, também falou sobre a importância de ter um ambiente de trabalho respeitoso e inclusivo. Disse que se sente acolhida por sua equipe atual, e que pequenos ajustes — como o uso de legendas e a escuta ativa — fazem uma diferença enorme na produtividade e bem-estar. “Inclusão não é caridade. É respeito. É oportunidade.”
Ela ainda comentou sobre o impacto das críticas em sua jornada. E deixou uma metáfora potente: “Toda vez que alguém termina um relacionamento, vai para a academia, muda de vida, estuda mais. Por que a gente espera um tombo para florescer? Que tal usar a crítica como combustível agora?”
“Quanto mais difícil, mais interessante. Porque quando você supera, quem riu de você vai querer saber como você conseguiu.”
No fim da conversa, ao ser questionada sobre o que diria a outras pessoas com deficiência que sonham com cargos de liderança ou crescimento profissional, ela foi certeira:
“Aceite quem você é. Estude. Se atualize. E nunca, nunca aceite que digam até onde você pode ir.”