Cecília Morais vive hoje um momento de transição consciente. Após anos liderando estratégias de comunicação em grandes empresas e ocupando posições de destaque no entretenimento, ela escolheu algo que muitos profissionais buscam, mas poucos têm coragem de fazer: priorizar a vida pessoal. Natural de Recife, ela passou mais de duas décadas fora de casa — entre Rio de Janeiro e São Paulo — e agora está de volta às suas raízes, de forma planejada e em busca de novos horizontes profissionais que se alinhem com a vida que deseja levar daqui em diante.
Segundo ela, a decisão de mudar de cidade e buscar um novo foco na carreira — talvez em comunicação interna, talvez em outro setor — veio da percepção clara de que o modelo anterior já não fazia mais sentido. “Relações públicas para o mercado de entretenimento é um trabalho muito puxado. É sábado, é domingo, é à noite, é uma viagem em cima da outra. Eu tô há 20 anos fazendo isso e chegou um ponto em que comecei a não sentir mais prazer. Eu já tinha montado um time bom, que eu confio muito. E aí, quando percebi que a minha saúde já não estava mais alinhada com esse ritmo, eu tomei a decisão de virar a chave.”
Ao olhar para sua trajetória, ela resume o caminho com uma palavra que, embora simples, é poderosa: divertido. Mesmo com todos os bastidores e a correria da área de eventos e comunicação, havia um prazer verdadeiro em entregar experiências marcantes. Cecilia relembra a pré-estreia com Viola Davis no Morro da Urca como um desses momentos simbólicos — estressante, cheio de desafios, mas também memorável.
Ela reconhece que, com o tempo, se tornou mais do que uma profissional de comunicação. Tornou-se gestora, especialista em eventos, articuladora de agências e operações complexas. “Aprendi a gerenciar três, quatro agências ao mesmo tempo. Fui ganhando bagagem. E, como líder, entendi que delegar é empoderar. Deixar que o time execute do seu jeito, mesmo que diferente do meu. E, muitas vezes, melhor. Um bom líder não tem medo de ver alguém do time fazendo algo até melhor do que ele. Ao contrário, isso mostra que o time está crescendo — e esse é o objetivo.”
Montar e liderar times diversos sempre foi uma prioridade. Cecília acredita que uma boa equipe se constrói com perfis complementares — e não iguais. No último time que formou, tinha apenas mulheres, mas com personalidades e formas de trabalhar muito distintas. Algumas mais organizadas e racionais, outras mais intuitivas ou práticas. “O segredo é esse: elas se respeitavam, trabalhavam bem juntas e uma completava a outra. A diversidade, inclusive de pensamento, era o que fazia o time funcionar tão bem.”
Quando questionada sobre que conselho daria a si mesma no início da carreira, a resposta vem carregada de segurança e calma: seguir em frente. Confiar no coração. Ter paciência. “Eu me considero alguém que teve sorte. Sorte de estar na hora certa, no lugar certo, diante de boas oportunidades. Mas também fui atrás, agarrei essas chances e transformei em carreira.”
Ela passou por empresas como HBO, Paramount, Prime Video e Netflix. E em cada uma dessas jornadas, deixou sua marca. Hoje, ao olhar para o mercado, não tem dúvidas de que é preciso ter empatia com o time e saber compartilhar os créditos. “No Prime Vídeo, toda vez que uma das meninas do time dava uma ideia, eu fazia questão de dizer: ‘isso aqui foi ideia da Isabela’. Acho que é assim que se constrói confiança e uma liderança madura.”
Para quem está começando, seu conselho é claro: tenha paciência consigo mesma. Não exija perfeição, mas sim comprometimento. Entenda que o resultado é construído em conjunto — e não é sobre o “meu time”, mas sim “o nosso trabalho”. E ressalta: “A imaturidade de um líder aparece quando ele tem medo de que o time brilhe mais que ele. Não é sobre o gestor. É sobre os resultados coletivos.”
Cecília também é defensora de uma mentalidade em constante evolução. Na Amazon, ela aprendeu o valor da mobilidade interna e aplicou isso no seu próprio time, construindo junto com uma colaboradora um plano para ela trabalhar fora do país — mesmo sabendo que perderia essa profissional. “O papel do gestor é estimular os objetivos de carreira do outro, não só olhar para si.”
Com uma trajetória sólida, marcada por entrega, escuta ativa e um olhar humano sobre a liderança, ela mostra que sua transição de carreira não é um recomeço, mas sim uma escolha madura. Um capítulo novo em uma história que já tem muito valor — e ainda mais impacto por vir.