Poucas pessoas conseguem olhar para trás e ver, com tanta clareza, o quanto cada escolha moldou quem são. Jessica Andrejozuk é uma dessas. Hoje sócia da agência Smash, especialista em eventos e relacionamento, sua trajetória é marcada por coragem, reinvenção e uma obstinação rara — daquelas que não recuam nem diante do impossível.
Tudo começou cedo. Com 16 anos, organizou sua própria festa de formatura depois que a turma levou um calote da empresa contratada. Alugou o espaço, vendeu ingressos, montou o evento do zero — e teve certeza: era isso que queria fazer. E foi com essa certeza que entrou na USP para cursar Lazer e Turismo, escolhendo a única graduação da Fuvest, na época, que incluía “eventos” na grade curricular. Enfrentava duas horas e meia de transporte público de ida e volta, todos os dias. Mas nem pensava em desistir. “Era o sonho que me movia”, lembra.
Desde a universidade, mergulhou de cabeça no que amava. Entrou para a atlética, produziu eventos acadêmicos, tornou-se bolsista de pesquisa estudando o impacto de megaeventos esportivos. Quando chegou à maioridade, foi direto para o mercado corporativo. Passou por feiras internacionais, formaturas, festivais culturais, casamentos, eventos públicos. Montou palcos na praia e produziu eventos para o Facebook. Onde havia gente reunida, lá estava ela — conectando tudo e todos.
Mas foi na Smash, há dez anos, que encontrou o lugar para crescer com consistência. Entrou como assistente de produção e rapidamente subiu. Com sua fluência em inglês e espanhol, foi chamada para atender contas internacionais. Ganhou destaque, virou referência em relacionamento com o cliente e, com o tempo, recebeu o convite para ser sócia. “Eu sempre deixei claro que queria. Nunca fiquei esperando reconhecimento cair no colo. Dizia em voz alta: quero ser sócia. E fui fazendo por onde.”
Durante a pandemia, quando o mundo dos eventos desabou, a Smash se recusou a parar. Foi a mente por trás da primeira convenção online do Brasil — realizada em abril de 2020, menos de um mês após o lockdown. Em um estúdio de TV, ainda descobrindo as possibilidades do digital, a equipe provou que era possível continuar criando experiências, mesmo à distância. E manteve a empresa viva — e em crescimento.
Foi esse olhar criativo, aliado a uma capacidade rara de execução, que a fez expandir a área de relacionamento, estruturar redes sociais da agência, prospectar clientes e seguir, sempre, de olho nos detalhes. Hoje, mesmo como sócia, continua atuando na linha de frente, no campo, porque, como ela mesma diz: “É na produção que o meu coração bate mais forte.”
Só que a vida ainda teria um grande teste a colocar no seu caminho. Há pouco mais de dois anos, Jessica foi diagnosticada com câncer de mama. E mesmo ali, no meio do tratamento, não parou. Marcou a cirurgia para o fim de semana para não perder dias úteis. Fez quimioterapia, rádio, imunoterapia. Perdeu cabelo, peso, as unhas — mas não perdeu a paixão pelo trabalho. “Trabalhar me mantinha viva. Me lembrava quem eu era. Era o meu lugar de força.”
Criou um podcast para falar sobre a experiência. Um espaço de acolhimento, escuta e troca — sobre o câncer, mas também sobre recomeços, luto, identidade. Porque, como ela diz, “não é o fim, é só um pedaço da caminhada.” Hoje, segue em tratamento, mas com a energia de quem voltou com ainda mais força. E com uma missão clara: falar sobre o que ninguém fala, dar voz ao invisível e inspirar outras mulheres.
Jessica defende que o maior desafio da liderança hoje é entender que estamos todos misturados. “Não existe mais separar o pessoal do profissional. O colaborador entra no seu home office, vê sua casa, sua gata. Você vê o cansaço dele, a vida dele. E precisa saber lidar com isso.” Por isso, além de MBA em Gestão Estratégica, está agora estudando Neurociência — para entender ainda mais profundamente como cuidar de gente.
Para ela, saúde mental é pauta urgente. E produtividade só se sustenta quando há equilíbrio emocional. “A gente vive numa era onde tudo é pra ontem. Mas tem coisa que o ChatGPT não resolve. Às vezes o que falta é uma escuta humana, um toque humano.”
Jessica acredita que não se lidera pelo cargo — se lidera pela forma, como se está presente. Reconhece que erra, pede desculpas, aprende com os tropeços. E nunca tenta ser outra pessoa para agradar. “Gente boa atrai gente boa. Quando a gente se posiciona com verdade, o mercado responde.”
Suas inspirações vêm de muitos lugares. De mulheres como Tati Oliva, que acreditam na força do networking; de colegas de mercado que a tratam com humanidade mesmo sendo clientes; de figuras como Ana Paula Padrão, que dominam o palco com sensibilidade. Mas, acima de tudo, vem da sua própria história — e da certeza de que é possível crescer sem renunciar a si mesma.
Jessica é um sopro de coragem em meio à velocidade do mercado. Uma mulher que não parou nem quando tudo parecia dizer para parar. E que hoje lidera com alma, entrega com amor e transforma o cenário de eventos — um evento de cada vez.